Na estréia da nossa editoria NOSS Pesquisadores conversamos com a Amanda Cseh, Pesquisadora do NOSS, Mestra em Sustentabilidade (PPgSUS – EACH/USP), Gestora Ambiental (EACH/USP). Nesta editoria iremos divulgar os trabalhos desenvolvidos no NOSS e as pessoas envolvidas com a pesquisa.
Qual é o panorama da fração orgânica dos resíduos sólidos urbanos? Por que é importante que essa fração seja estudada?
A fração orgânica dos resíduos sólidos domiciliares (>50%) dispostas em aterros sanitários e lixões apresenta-se como um desafio socioambiental e financeiro para a gestão de resíduos sólidos nos municípios brasileiros, principalmente nas megacidades como São Paulo, devido a escala em que estes resíduos são gerados diariamente.
Esses resíduos, quando recebem tratamento apropriado, podem ser assimilados pela natureza e reinseridos nos processos produtivos, gerando benefícios socioambientais para a produção de alimentos, mitigação de mudanças climáticas e recuperação de solos degradados e geração de renda.
Como os resíduos orgânicos foram abordados na sua pesquisa? Quais foram as abordagens teóricas e metodológicas escolhidas?
A dissertação buscou responder à questão: “como o campo da gestão da fração orgânica dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) está organizado na cidade de São Paulo?”, tendo como objetivo “entender o estágio da gestão de resíduos orgânicos na cidade de São Paulo”. Elementos da teoria de campos de ação estratégica foram aplicados ao estudo de caso exploratório e qualitativo. Foram realizadas 16 entrevistas semiestruturadas com representantes de organizações da sociedade civil, funcionários de empresas de limpeza pública, gestores públicos para levantamento de dados primários e a análise documental para os dados secundários. A análise sociológica do discurso foi utilizada para a discussão dos resultados.
Através dos resultados da sua pesquisa, qual é o lugar que a gestão de resíduos orgânicos ocupa no sistema de limpeza urbana mais amplo? Quais são as ações do município em relação a essa problemática?
Pode-se perceber que a gestão de resíduos orgânicos está emergindo como campo. Neste caso, os atores estão delineando coletivamente suas ações estratégicas e organizando-se em dois possíveis quadros: o quadro interpretativo dominante – modelo de aterros sanitários e dois quadros alternativos: um voltado para a gestão centralizada e o outro para uma gestão descentralizada (Figura 1). Por fim, identificou-se uma tendência de tênue mudança na trajetória no campo de gestão dos resíduos orgânicos.

Observou-se uma estruturação na gestão de resíduos orgânicos devido à crise dos aterros sanitários, à vigência da PNRS em nível nacional, do PERS em nível estadual e do PGIRS em nível municipal que impulsionaram a gestão municipal a considerar a separação e valorização de cada fração dos resíduos, dentre elas a dos resíduos orgânicos.
Foi possível notar que a problemática da gestão de ROs estava presente em diversos períodos da história do município, onde algumas gestões municipais paulistanas empreenderam esforços na tentativa de algum tipo de gestão para os resíduos orgânicos. Entretanto, os interesses e a legitimidade dos grupos que defendiam a manutenção dos aterros sanitários e a coleta sem separação por tipo de resíduos permaneciam, o que dificultava o estabelecimento outras formas de segregar e destinar os resíduos orgânicos.
Desde 2013, após um hiato sobre a gestão de ROs, a problemática foi reinserida na agenda municipal e fatores como a mobilização social em OSC, os marcos legais federais, estaduais e municipais, foram determinantes para essa reinserção. O que culminou em dois projetos pilotos (Composta São Paulo e os Pátios descentralizados de Compostagem) que repercutiram de forma positiva para o município. Além desses projetos, observou-se articulação dos órgãos gestores municipais, das associações de empresas e da sociedade civil para que projetos de hortas integradas com compostagem sejam implantadas nas escolas municipais.
As ações adotadas são consideradas efetivas/satisfatórias? Por quê?
Apesar da gestão municipal continuar com os pátios de compostagem nas feiras nas diferentes regiões de São Paulo, percebeu-se que ainda não há o engajamento da gestão municipal na diversificação de tecnologias para recuperação dos materiais e nutrientes dos resíduos orgânicos. Por outro lado, o que se percebeu foi uma tendência voltar na história com a priorização de soluções centralizadas, agora denominada como “ecoparques”. Estes empreendimentos combinam soluções, mas não consideram a separação prévia ou coleta seletiva dos resíduos. Pelo contrário, se propõem a realizar a separação de todos os materiais que chegarem: triagem de material reciclável seco (plásticos, papéis, vidros, etc), biodigestão e compostagem dos orgânicos e envio dos rejeitos para os aterros sanitários por meio do tratamento por biodigestão seguido por compostagem.
Esta forma centralizada e sem separação prévia dos resíduos já esteve presente em diversos períodos da história do município como as Usinas de Compostagem da Vila Leopoldina e de São Mateus, que não se viabilizaram justamente por não haver coleta diferenciada para cada tipo de resíduo o que impossibilitava a valorização dos diferentes tipos de resíduos, como também pela escala de geração diária de resíduos.
Portanto, é importante frisar que o planejamento e as ações para o estabelecimento de uma gestão de resíduos orgânicos no município se fazem necessários e urgentes, frisando que se deve considerar os diferentes contextos e complexidades do mosaico de realidades do município de São Paulo.
Como os resultados de sua pesquisa contribuem para a sociedade?
Os resultados da dissertação podem interessar aos pesquisadores e acadêmicos que estudam sobre gestão de resíduos sólidos urbanos. Assim como pode ser se interesse dos gestores municipais, que podem utilizar o estudo como subsídio para elaborar diagnósticos dos resíduos orgânicos de seus respectivos municípios, gerarem dados mais precisos e confiáveis e assim, direcionar esforços para buscar alternativas para a gestão de seus resíduos orgânicos, por meio de sua valorização e reinserção nos ciclos: biológicos e produtivos, não limitando-se apenas a compostagem como possibilidade de tratamento dos resíduos orgânicos.
Como citar?
CSEH, Amanda. Mapeamento do campo da gestão de resíduos orgânicos na cidade de São Paulo. 2019. 169 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Programa de Pós-graduação em Sustentabilidade, Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018. Versão Corrigida.
Onde encontrar o trabalho?
Link para banco de Teses e Dissertações USP: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/100/100136/tde-03032019-111755/pt-br.php